Assim, desde aquele mês e com a parceria na pesquisa e roteirização de Wilian Santiago, Rubens Barbot e Gatto Larsen se debruçaram na empreitada.
Partindo da pesquisa desorganizada que tanto espanta aos “arianos” críticos nacionais, e empolga os estrangeiros, foi construído um roteiro tão desorganizado quanto a pesquisa.
Nele se misturam pensamentos sobre “seres residuais”, “dignidade da memória”, “histórias de pessoas afro-brasileiras anônimas e reais”, “uma carta de um leitor publicada num jornal” também real, e a própria história da companhia, que em 16 anos construiu Quase Uma História, como são as histórias negras em geral, pois, se tudo isso fosse branco, seria uma grande história. Uma saga.
Uma magnífica sala de ensaio cedida diariamente pelo Centro de Estudos Sociopsicanalíticos foi o ponto de apoio para desenvolver a pesquisa e montar o espetáculo que logo recebeu o apoio da empresa Macromídia Comunicação.
Cinco estudos coreográficos, todos com princípio, meio e fim, e um epílogo com a história da companhia cobrindo o palco são unidos pela personagem central, um músico de sucesso querendo compor uma música, mas que a carta lida no jornal daquele dia, sobre racismo (é real) não sai da sua cabeça e atrapalha sua criação, que se mistura com memórias, cenas reais, sonhos etc., fazendo um espetáculo feito uma colcha de retalhos, mas retalhos sobre o mesmo tema.
A trilha composta por músicas folclóricas brasileiras e africanas, Johann Sebastian Bach e silêncios vai construindo o marco ideal para um esquecido tema de Milton Nascimento e Ruy Guerra que compõe o epílogo.